Tem alguém aí?

Fonte da imagem: http://static.tumblr.com
Adaptação: Kaylane R. da Silva
Olá! Meu nome é Watanabe Naomi. Tenho quatorze anos e estudo na Aoba Japan International School. Minha história é considerada “trágica”, talvez seja mesmo...

Eu tenho uma família um tanto quanto grande. Moro com meus pais e meus três irmãos: Watanabe Akira, o mais velho, Watanabe Hideki, que era o “do meio”, e minha irmã adotiva, Kobayashi Aiko.

Meu pai já brigava com minha mãe antes dela adotar Kobayashi. Depois que a adotou, ele batia nela, dizia que não aguentava mais essas “crianças” incomodando. Meu pai raramente ficava em casa. Ele trabalhava muito, mas quando ficava, descontava seu stress em minha mãe. Ou seja, a espancava e ela mal ficava em pé por conta disso.

Teve um dia que meu pai se irritou com minha mãe e, por um motivo que não lembro o qual, matou-a...

Depois de alguns meses, nossa “família” estava se destruindo aos poucos. Quando meu pai ia trabalhar, Kobayashi aproveitava e matava animais perdidos na rua – coisa que ela aprendeu com Akira. Hideki fica horrorizado com aquilo, e eu também.

Estava quente, um belo dia. O que era uma coisa estranha, porque aqui estava chovendo há mais de um mês. Meu irmão, Akira, se irritou com Hideki por ele ter comido um bolo que era especial para Kobayashi. E, planejando junto dela para se vingarem, decidiram criar uma tortura para ele, mas não na intenção de matá-lo. Na noite deste mesmo dia, colocaram Hideki em uma sala sem janelas, somente com um tubo de ventilação, que foi fechado. Deixaram-no ali por horas enquanto escutava uma música feita pela Kobayashi, que tinha gritos de pessoas, vidro quebrando, explosões e tudo de horrível que possa imaginar.

No dia seguinte, foram ver como Hideki estava. Ele estava morto. Morreu asfixiado com os tímpanos estourados. Meu pai não desconfiou de nada porque estava trabalhando. Como eu disse, ele raramente vem pra casa, e não se deu conta quando voltou que o Hideki não estava lá. Nem se deu por preocupado quando mencionei que ele estava desaparecido.

Meses depois, meu pai entrou em uma profunda depressão e se suicidou. Ninguém se importou muito, exceto eu, que chorei um pouco. Mesmo sabendo de todas as coisas horríveis que meu pai fez, eu ainda era filha dele e o amava independente de quão idiota ele tivesse sido.

Hideki estava morto, meu pai e minha mãe também. Não via mais sentido na vida.

Passamos algumas semanas, sobre os “cuidados” de Akira, eu simplesmente odiava aquilo, até que algo muito ruim aconteceu: comecei a brigar com ele porque ele dizia que deviríamos nos mudar. Mas, eu não queria, então discutimos feio, até eu dizer algo que não deveria: “NÃO VOU! MINHA MÃE ESTÁ ENTERRADA NO CEMITÉRIO QUE É AQUI NA FRENTE. QUERO FICAR COM ELA E COM MEU PAI. ISSO TUDO É CULPA SUA! VOCÊ DEVERIA MORRER!”.

Ele ficou parado na minha frente sem falar nada por um longo tempo. O silêncio se fazia presente na sala e não ia embora, quando Akira resolveu sair da casa. Fiquei lá na sala sem entender, até ele voltar com um machado querendo me acertar. Fui correndo para o meu quarto, que fica no segundo andar, onde estava Kobayashi brincando com seu urso e sua bailarina. Entrei rápido e me escondi no armário. Akira estava na porta e me viu pela fresta.

Naquele momento, ele estava prestes a jogar aquela ferramenta em mim, quando Kobayashi se levantou para abraçá-lo e o machado acertou sua cabeça. Akira correu para pegá-la nos braços. Ela sangrava muito. Fiquei sem reação no momento. O que pude fazer foi sair de lá correndo e ir para fora de casa, onde fiquei até o anoitecer. Decidi voltar para dentro porque estava com frio. Subi para meu quarto hesitante. Quando cheguei lá, Akira não estava e nem o corpo de Kobayashi. A única coisa que tinha no lugar era uma folha de papel no meio da poça de sangue escrito “Tem alguém aí?”.

Kaylane R. da Silva
7º Ano, Turma 72 – PENOA
E.E.B. Prof. Alexandre Sérgio Godinho
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Sobre Prof. Reginaldo Amorim

Professor de Língua Portuguesa e Literatura da Escola Emérita Duarte - Cívico-Militar. Mestre e doutorando em Linguística pela UFSC.
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